quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sobre a vida e a morte


Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma (Lavoisier).


A virada do ano é sempre época de reflexão, promessas de mudanças, pedidos. Como não poderia deixar de ser, nesta virada de ano pensei e repensei diversas coisas, mas, em despeito do clima de festa a reflexão que me prendeu, a ponto de se tornar o mote do primeiro texto deste blogue, foi sobre a vida e a morte, ou, para ser mais honesta, sobre a morte e a vida.


Nos últimos meses de 2007 presenciei a proximidade da morte. Acompanhei com uma confusão de sentimentos inexplicáveis os últimos tragos de ar dados por meu avô. O homem que aos 78 anos economizava cada centavo, desobedecia a ordens e insistia em não se curvar a cada doença que lhe acometia, agora se curvava a algo mais forte, não precisava mais economizar. Sua expressão demonstrava que clamava para que aquele fosse o último suspiro.


O intervalo entre cada respiração ficava cada vez maior, só me restava silêncio, nenhuma palavra serve neste momento. Na mesma cadência dos últimos três suspiros, falei baixo três pai nossos, como que em reflexo.
Depois disso apenas o silêncio, uma mistura de vazio, paz e a consciência do fim. Sentimos que sorrateira ela adentrou aquele quarto e o levou.

Pode parecer lugar comum, mas é incrivelmente doloroso quando percebemos a fragilidade da vida, quando a “ordem natural das coisas” é quebrada.
No almoço de páscoa ela sentiu uma dor no estômago, fato comum, Oito meses depois, no dia 31 de dezembro recebo a notícia, com 50 anos minha madrinha se foi.
Não considero uma tragédia, ela viveu, amou, bebeu, transou, chorou, viajou, teve tempo para realizações, mas a sensação de que não perdeu a vida, e sim que esta lhe foi tirada antecipadamente é inevitável.


Tragédia aconteceu com Thomas que aos 20 anos teve sua juventude tirada por um ato brutal, vindo não de um desejo superior, mas das mãos de um homem.

Ainda assim, sofri a morte da minha tia.


Pensei no tempo que gasto com coisas banais, acreditando que o relógio anda em meu favor, pensei nas coisas que deixo para amanhã, com a certeza de que ainda estarei aqui amanhã, pensei nos planos que deixo para depois, sem considerar que não tenho controle algum sobre o depois.


Neste momento pensei em João Pedro, uma vidinha nova. Nasceu três semanas antes do esperado, tinha pressa. Quis ver 2008 começar entre nós, do lado de fora, se cansou do seu mundinho solitário. Não veio preencher espaços que ficaram vazios, mas é a continuidade.


Na onda das reflexões insanas que me acometiam, cheguei até às considerações teológicas, religiosas, existenciais. De onde viemos, para onde vamos. Por que nos preocupamos mais com a segunda consideração que com a primeira? Mas logo abandonei tais pensamentos que apenas nos levam em uma espiral sem fim.

Aí entra Lavoisier, sem querer banalizar ou simplificar seu raciocínio, tive a audácia de parafraseá-lo. “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, acredito que o mesmo seja com a vida, portanto não perdi pessoas, nem novas vidas foram criadas, algo se transformou, algo que transcende esta carcaça que carregamos ao longo de nossos dias, algo que não ouso tentar dar nome ou forma, mas que livre que concepções ou crenças sinto.


Fico com a última frase que minha tia me deixou como lição para a vida, "Aproveite bastante"

2 comentários:

Unknown disse...

oo priminha, que lindo esse seu blog...
Maravilhoso o que escreveu também "Sobre a vida e a morte"
amei mesmo, me emocionei ao ler a história do vovô...de sua madrinha, do João Pedro...
Parabéns Nati!
Beijinhos..Marina :*

Anônimo disse...

Ná, muito lindo o que voçê tem escrito no seu blog.
Adorei!!!
O texto do Zé ficou maravilhoso...
Parabéns!!!
Sua excelentedrasta Cida