segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Zé da esquina

O Zé da esquina é adjetivo para qualquer Zé, ou um Zé qualquer, alguém que todo mundo já ouviu falar mas ninguém sequer considerou se relacionar.

Mas esse Zé, o de uma das esquinas mais movimentadas da zona sul de São Paulo não é qualquer Zé, muito menos um Zé qualquer, ele é um empresário de sucesso. O Zé teve a astúcia de perceber cedo um mercado em ascensão nas grandes metrópoles. Dentre o leque de produtos que Zé vende estão: cordialidade, simpatia, alegria, amizade, bate-papo, esperança.

O leitor pode estar pensando, “Que papo furado é este”? Explico.

O Zé não tem as pernas, mas calma, não pretendo ser sensacionalista, quando se conhece o Zé este é um detalhe que passa desapercebido. O Zé anda sobre um skate de um lado para o outro na avenida República do Líbano, e pasmem, o Zé não pede dinheiro, não oferece bala, não tenta lavar seu vidro, não apela para o já conhecido “Por favor, me ajude, eu tenho filhos para criar e não posso trabalhar”. O Zé faz amigos, ele conversa de igual para igual, não se diminui, não tem autopiedade. Ele cativa com seu carisma, faz com que pessoas abaixem o vidro de seus carros, sem medo de assalto, apenas para saber deste homem que aos olhos da maioria deveria ser tão infeliz, qual o motivo do sorriso que todos os dias insiste em lhe acompanhar.

Alguns poucos passam batido, a maioria pára ou diminui a velocidade frente ao semáforo aberto para colocar a conversa em dia. Alguns, como eu, torcem para que o semáforo esteja vermelho, para poder gozar de alguns segundos a mais a companhia deste Zé, que por forte afeição ouso chamar de amigo.

- Oi linda! Ué, cadê o namorado?

- Trabalhando Zé

- Como foi o fim de semana Zé?

- Maravilhoso

- Me diz uma coisa Zé, você ta sempre felizão aí, como você consegue estar sempre tão bem?

- O pessoal acha que eu sou coitado por ficar aqui. Pô to numa boa, vejo mulher bonita o dia inteiro, conheço e converso com gente inteligente e simpática, paquero a mulherada e ainda ganho um dinheiro.
Aquele carro ali eu comprei com o dinheiro que os amigos me dão aqui, e ainda sustento meus 5 filhos

- Porra Zé, cinco?!

- Pois é né linda, não consigo me segurar quando vejo mulher bonita, cada filho é com uma mulher. E não parei ainda não!

Abre o semáforo, como no autódromo de Interlagos todos tentam assumir a primeira posição, a fim de chegar 2 minutos antes ao seu destino.

O Zé fica lá na sua esquina, com seu skate e seu sorriso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Natileao,O Zé da esquina, deveria fazer parte em cursos de reciclagem do Detran, e em alguns consultórios de psicólogos, dando exemplo de vida com alegria e sobretudo dignidade.
Parabéns - Celso