sexta-feira, 18 de abril de 2008

A máquina do desemprego




Já em 1847, Marx tentou nos alertar “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e como isso, todas as relações sociais...Essa revolução continua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, ... as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar”.
Ao longo das bruscas mudanças sofridas pelo mercado de trabalho brasileiro, o trabalhador, cal misturado à água, é obrigado a constantes mutações, pois se permanecer inerte endurece, pesa e se transforma em pedra no caminho.
Aprendemos cedo a competir, com nossas limitações, com o outro e contra todos. No entanto, ultimamente a competição tem se tornado injusta, temos que competir com máquinas. Não são máquinas saídas das telas de “O exterminador do futuro” ou do mais recente “Transformers”, são máquinas que ocupam em larga escala os postos de trabalho que antes demandavam de mãos, braços e cérebros. Os únicos cérebros que o mercado ainda demanda são os daqueles que criam as máquinas, controlam seus movimentos ou coordenam alguma coisa, ou coisa alguma.
Ao trabalhador cabe a impossível missão de se atualizar e se especializar em temas perecíveis, barganhar por um espaço restante no mercado de trabalho e aumentar sua produtividade.
Em último caso, resta o mais crescente mercado, o informal.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

LER – Lesão por emburrecimento repetitivo


Nunca fui daquelas jornalistas inconvenientes que convencida de sua falsa superioridade intelectual corrige as falhas gramáticas alheias. Tenho, pelo contrário, a humildade de mensurar e admitir minha ignorância, como a de tantos, em relação ao nosso tão complexo idioma.

Assim como na inteligência, medida pelo QI, os mais evoluídos utilizam apenas 10% de sua capacidade intelectual, na gramática, aqueles que mais sabem devem ter conhecimento de algo próximo a 10% do universo gramatical.

Explica, mas não justifica.

Me sinto no dever de denunciar os assassinatos que ocorrem diariamente.
Junto a tantos outros crimes, no caderno policial dos periódicos devemos incluir o homicídio culposo (sem intenção de matar) da língua portuguesa.

Ultimamente tem chamado minha atenção o uso recorrente de duas formas cruéis de homicidio ao nosso idioma e ao meu aparelho auditivo que sente dores quando se depara com algo assim.
Ouço com freqüência, da boca de funcionários “de alto escalão” os termos “para mim fazer” e “estarei enviando, estarei verificando, estaremos retornando”...ando...ando...ando.

No primeiro caso sempre que escuto o termo, penso em sugerir ao interlocutor o uso de tangas e penas de índio, talvez todos os que falam assim devam ser encaminhados a tribos onde mim realiza alguma ação.

E a praga do telemarketing se espalhou, conseguiram estragar o gerúndio. São comuns nos escritórios diálogos como:

triiiim, triiimmmmm....

- funcionário de alto escalão boa tarde
sim, eu estarei avaliando esse pedido, logo após estarei comunicando os funcionários e estarei encaminhando um e-mail com a solicitação. Assim que obtiver uma resposta estarei te retornando

E alguns, ainda mais violentos dizem:

- Se você puder estar me enviando este e-mail para mim fazer uma leitura mais detalhada eu estarei respondendo em breve.

Já que os termos se tornaram tão comuns, batizemos de “indioma” e “duplo gerúndio carpado”

Concluo que devemos seriamente rever a formação de nossos “funcionários de alto escalão” e fazer uma busca de antecedentes criminais antes da contratação, caso contrário, os funcionários de baixo escalão, como nós, reles mortais, sofrerão de uma crescente epidemia de LER, lesão por emburrecimento repetitivo.




PS: Se você reconheceu algum personagem desta história, qualquer semelhança não é mera coincidência. Se você se reconheceu nesta história, indico que procure um professor particular de gramática.