segunda-feira, 4 de abril de 2011

Esperar, acreditar e insistir

Foto: Thiago Santos
Quando os olhos finalmente se abrem é possível entender as lições escondidas nas sutilezas de cada instante. O surfe tem me presenteado com alguns desses ensinamentos. Três lições têm sido especialmente importantes nesse momento específico da minha trajetória. No surfe, como na vida, é preciso esperar, acreditar e insistir.

No momento em que entra na água você já sabe que passará grande parte do tempo esperando. Esperando pela onda certa, por exemplo. Mas entenda, a onda certa nem sempre é a onda perfeita. Às vezes é aquela onda pequena, quase uma marola, que você pensa em desprezar, mas no fim proporciona tanto prazer quanto qualquer outra. Vez ou outra, a onda certa é aquela que amedronta, que devora, que derruba. O fato é que todas ensinam algo.

Quem surfa também espera dias, semanas, até meses por uma boa ondulação, afinal, tem dias que a maré não está a nosso favor. Na vida não é diferente. Passamos dias esperando uma proposta de emprego, meses esperando aquele dinheiro entrar, e anos esperando que um grande amor apareça.

Tanto na vida quanto no surfe, não podemos prever quando a maré finalmente vai estar a nosso favor, só podemos esperar que isso aconteça, sem desprezar as marolas e sem temer as ondas vorazes.

Se você quer surfar é imprescindível acreditar. Acreditar que vale a pena remar por horas, mesmo em más condições. Acreditar que vai conseguir atravessar a arrebentação, acreditar que as ondas vão compensar o esforço. Acreditar que sim: se eu me esforçar dá pra pegar aquela onda, sim se eu tentar mais uma vez vou dropar, sim, se eu não desistir vou alcançar.

No momento em que se está no mar, sentado, se equilibrando sobre a prancha e lá longe é possível ver uma movimentação, a aguá adquirindo velocidade, no horizonte a ondulação crescendo em sua direção, só há duas opções: acreditar e remar com toda vontade ou desistir e perder a onda. Não existe meio termo. Na vida não é diferente.

Existem pessoas que ficam sentadas, olhando a vida passar e existem aquelas que se jogam, mesmo sabendo que podem se afogar ou que podem não alcançar a onda. Mas é preciso se lembrar: “É só água”, como diz uma grande amiga minha. O ar está logo alí e mesmo o pior dos caldos te ensina a sobreviver.

A terceira lição que aprendi com o surfe foi insistir. No início são horas de esforço físico por pouca recompensa. São horas, dias, meses, até anos de sacrifícios, dores musculares, abnegações, viagens na madrugada. São minutos intermináveis remando, tentando passar a arrebentação para segundos em pé em uma onda. Há dias em que você cai, cai, cai, cai, cai, e pensa em desistir. Mas também há aqueles em que você evolui, afinal, é das adversidades que surgem os aprendizados. O importante é que se você tiver a determinação necessária, a natureza e o esporte te recompensarão com os melhores segundos da sua vida. Aquele momento em que você, a prancha, o mar e o ar se tornam um.

E se na vida você achar que não vale a pena insistir, tenha certeza que você vai se afogar. Na vida não dá para colocar a prancha embaixo do braço e desistir, não tem colete salva-vidas, nem bote de resgate. Correndo o risco de parecer piegas, digo que a música está certa: “A vida vem em ondas”, às vezes ela te derruba, às vezes te conduz. Cabe a você escolher se vai surfar pela vida ou apenas boiar enquanto ela passa.

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Um comentário:

Bruna Dell'Agnolo disse...

Ameiii o texto.... essa é a real da vida e do surf.... deixando a maré nos levar!